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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Vestibulando olímpico ou atleta estudioso?

Os novos tempos do vestibular me levaram a refletir muito sobre o que está acontecendo, um modo de preparação diferente. A exigência atingiu níveis pouco imagináveis alguns anos atrás. É preciso mais do que saber tudo de tudo. É preciso ter domínio do conteúdo, da cena do vestibular, do contexto todo que envolve a preparação. Mais do que estudar é preciso conhecer a si mesmo. Saber e conhecer os seus limites. Eis a questão difícil de lidar: limite!
O vestibular mexe com algo que desafia qualquer ser humano: superar os seus limites! E a superação exige esforço, dedicação, paciência e auto-conhecimento. A conquista da vaga não vem de graça. Vem com o tradicional sangue, suor e lágrimas! E mais um item: reflexão sobre as atitudes tomadas. Como num jogo de xadrez, é preciso saber o passo certo de cada peça. A estratégia certa é formada por um "amontoado" de processos reflexivos. Cada um deles aparece nos mais inesperados momentos. Algo do tipo: eu passei  no vestibular, mas era um teste. Ou então: não passei, tenho que melhorar em alguns pontos. Ou talvez: não passei, mas meu estudo tem qualidade e estou no caminho.
Há alguns anos, isso era obsoleto, sem fundamento algum. Hoje, uma realidade. O avanço do conhecimento científico sobre o processo de aprendizagem gerou supercandidatos. E cada um deles desenvolve as suas potencialidades ao extremo. Ter a capacidade de reconhecer as suas virtudes e explorá-las ao máximo compõe essa nova ordem da aprovação.
O melhor candidato é o que está atento a todo tipo de movimento, um cara "ligado". Ele sabe como agir, o momento certo de agir, a hora certa de dar o último "sprint"...se isso não é esporte, estamos chegando muito próximo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Tchau, ENEM!

O vestibular ou toda e qualquer forma de acesso à universidade são fatores geradores de ansiedade. Some a isso uma pitada de "desorganização" e o caos está formado. Os episódios ocorridos no último ENEM que o digam. Falha na impressão da prova amarela, cabeçalho invertido na grade de respostas, fiscais despreparados e sem nenhum treinamento, falta de informações entre as autoridades. O ministro da educação disse que tudo foi bem, o presidente, pela manhã, falou: foi um sucesso! Na troca dos astros, digo, após o pôr do sol, o presidente falou: faremos quantos ENEM's forem necessários e nenhum estudante será prejudicado. Diante disso, quase 5 milhões de estudantes assistem esse espetáculo digno de cinema. E como ficam os estudantes?
Essa talvez seja a pergunta de milhões de pais. A dos estudantes deve ser: e eu como fico? e o meu futuro? Não pretendo ser o Joãosinho do passo certo, mas algo deu errado e afetou os estudantes. Não estou mais falando do futuro desses estudantes. Que estão dentro de um jogo de interesses, algo do tipo, o MEC oferece mais verbas, as universidades aceitam o ENEM no seu processo seletivo e tudo está resolvido. Enganam-se as autoridades. Trabalho há 10 anos com estudantes que preparam-se para os mais difíceis vestibulares. Entendo a ansiedade gerada por um concurso importante, mas agora é diferente. Os estudantes convivem com mudanças nas regras, cancelamentos de provas, dúvidas quanto a lisura dos processos seletivos que dão acesso ao ensino superior. 
Diante disso, o que fazer? Uma passeata? Foi feita, não resolveu. As autoridades estão fechadas nos seus gabinetes e se julgam dotadas de todo o conhecimento universal. A opinião dos envolvidos não vale nada. Resta aos vestibulandos estudar. Vou tentar ajudar com algumas dicas:
  1. volte aos estudos, apesar de tudo!
  2. retome a sua rotina ou crie uma nova para a reta final
  3. ao identificar pensamentos do tipo: e o ENEM? O que vai acontecer? Pare de estudar! Lembre-se: ainda restam muitas provas, é preciso estudar especificamente para cada uma delas.
  4. converse com os seus professores e estabeleça uma estratégia de estudo para cada uma das provas que estão por vir.
  5. descubra as regras dos vestibulares: qual matéria tem peso maior, qual o estilo da prova, quanto tempo levo para fazer a prova, como deve ser feita a redação.
  6. converse com seus pais, explique as características dessas provas. 
  7. faça diversas provas anteriores, elas serão um roteiro de estudos importante.
  8. agora é hora de estudar com estratégia. Não adianta estudar tudo de tudo, mas sim o que é mais cobrado em cada uma das provas.
  9. respeite o seu limite de manter a atenção o máximo tempo possível. Ficar estudando desatento é desperdício de tempo e um fator a mais de estresse.
  10. esqueça o ENEM, pense nas provas que estão por vir e boa sorte!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dicas para um bom ENEM...

O vestibulando e sua família devem ter alguns cuidados essenciais em épocas de provas.

Vestibulandos:
  1. evite mudar seus hábitos de vida; a rotina deve ser preservada. A prova ,por si só, já é um evento importante, mudar o ritmo de vida nessa época contribui para o aumento da ansiedade.
  2. conheça seu local de prova antecipadamente. Evite atropelos na hora "H". Saia de casa cedo, evite os congestionamentos característicos em dias de provas.
  3. Estudar ou não antes das provas? Depende de cada um. Existem os candidatos que precisam dar uma última "revisada" na matéria nos dias anteriores, isso aumenta a sua segurança. Outros, sentem-se mais inseguros com esse último estudo no período pré-prova, situação que piora a ansiedade. Portanto, pense bem antes de revisar ou não. 
  4. Evite conflitos (brigas) familiares. Não existe nada pior que uma confusão nesses momentos. 
  5. Não faça grandes reavaliações do seu ano de estudo. Esse é o momento da prova! O foco, a atenção deve ser dado integralmente para a prova! Reavalie com o resultado em mãos.
  6. elabore uma estratégia para a prova. Saiba exatamente por onde você vai começar, qual a matéria do dia que você tem mais confiança. 
Família
  1. Devo ou não acompanhá-lo no dia da prova? Essa é uma decisão que deve ser combinada previamente. Conversem sobre o assunto. Geralmente, o vestibulando sabe o que lhe ajuda mais. Para alguns, a companhia dos pais é positiva. Para outros, um motivo de ansiedade.
  2. o que devo dizer antes das provas? Evite frases de efeito: "vamos lá campeão, agora é tudo contigo "filhão", a gente confia em ti, esse ano é certo que tu passa". A intenção pode ser a melhor possível, mas o resultado pode não ser o esperado.
  3. evite avaliações sobre o ano de estudo. Indagações sobre as matérias, sobre o que foi ou não estudado devem ser feitas durante o período de preparação, não na hora da prova.
  4. evite sugestões sobre como a prova deve ser feita. Para isso existem os professores! Eles são os profissionais treinados para essa tarefa.
  5. lembre-se: a família é importantíssima nessa hora! Troque o puxão de orelha pelo abraço, pode ser muito mais positivo para quem está inseguro!
Na hora da prova:
  1. lembre-se da SUA estratégia, não mude nada quando estiver com a prova em mãos.
  2. reconheça os sinais de ansiedade, eles podem comprometer o seu desempenho. Os sinais mais comuns são: angústia, respiração acelerada, aperto no peito, sensação de sufocamento, tremores, sudorese nas mãos, taquicardia (coração batendo mais rápido). Ao reconhece-los, não comece a prova. Tente respirar calmamente, lembre-se das fases da respiração: inspiração (ar para dentro) e a expiração (ar para fora), conte até 4 inspirando lentamente, segure o ar e conte até 4 lentamente, expire lentamente contando até 4, segure o ar novamente contando até 4. Faça esse movimento durante alguns minutos que isso ajudará na diminuição da ansiedade.
  3. faça uma leitura rápida, reconhecendo as questões mais fáceis.
  4. comece a prova pelas questões que você julgou mais acessíveis.
  5. ao reconhecer que está levando muito tempo para resolver uma questão, pule! O ENEM é uma prova longa, você não pode perder tempo.
  6. Não mude a resposta depois de marcar! O cérebro encontra caminhos que localizam a resposta correta. A maioria das pessoas muda ao revisar a prova, trocando a resposta correta para a alternativa errada. Na dúvida, não marque e volte em outro momento!
  7. Tenha um controle do tempo, evite problemas no final da prova! Não há nada pior que terminar a prova correndo.
  8. Confie no seu estudo, isso é o mais importante para a sua aprovação!
  9. por último: independente do resultado, jamais desista! O ENEM é uma prova importante, mas não definitiva quanto ao seu futuro!

terça-feira, 20 de abril de 2010

MSN, Orkut e relacionamentos...sou da idade das cavernas...








Eu sou um homem da idade das cavernas. A cada dia que passa me convenço mais disso. A cada novo sinal de uma nova tecnologia, mais me afasto do universo digital. Prefiro distância das novas tecnologias. O que será que me causa fobia da modernidade? Não sei, quer dizer, tenho hipóteses.

Trabalhando com adolescentes, convivo, indiretamente, com esse macrocosmo. Siglas dessa nova era são faladas diariamente: ORKUT, FACEBOOK, TWITTER, MSN, GOOGLE...e por aí a fora. Algumas delas, como o meu blog e o twitter, invadiram a minha vida, foram necessidades do trabalho. Pensei cuidadosamente antes de ingressar em alguma delas.  As experiências que vi ,anteriormente, não foram tão legais assim.

As chamadas "redes sociais" criaram uma realidade mais do que virtual. É possível ler o que todos estão fazendo em tempo real. Mais do que isso: é possível ver em tempo real. O orkut possibilitou uma exposição em massa da intimidade de seus usuários. Basta ,apenas, "postar" uma foto e lá foi. Tarde demais. Todos podem ver. Isso mudou um pouco. Após inúmeros processos, o Google acrescentou uma forma de limitar o acesso as fotos. A partir de então, só poderiam ver as fotos quem você escolhesse. Ou liberasse.

Aqui, me dei conta do porque fujo da tecnologia, da era digital. Não que eu faça apologia a uma boa câmera digital. Não é isso. Mas depois de tirar a foto, gosto de vê-la no papel. E dividir a experiência com as pessoas ao meu redor. Não pelo Orkut, mas ao vivo. Pelo Orkut a impessoalidade impera. Um reinado da fobia social. Você tem milhares de amigos ali na tela...veja bem: NA TELA! Que alegria adicionar aquele velho amigo do maternal, vocês estudaram juntos durante 1 ano! Justamente, numa idade em que a memória é fantástica, entre os 4 e 5 anos! Lembra, caro leitor? Quantas histórias dessa época? Quantas fraldas divididas?

Mas, a sua rede de contatos não pára de aumentar! O Orkut já não basta. Depois de conhecer o príncipe ou a princesa encantada é hora da troca de telefone e também de MSN. Agora, nasce um relacionamento duradouro. Pelo MSN, rola um climão! A sedução impera. Entre palavras abreviadas, siglas criadas pelo internetês, abreviou-se outras coisas. E ,nesse entre-linhas, perdeu-se a intimidade. Entre pegar o telefone e ouvir a voz, melhor usar o MSN. Contato visual, jamais! Olho no olho, pra quê? Lanço um desafio: você que tem namorado ou namorada, converse durante uma hora com alguém do sexo oposto pelo MSN. Obs: HETEROSSEXUAL...Depois, imprima a conversa e entregue para o seu digníssimo ou digníssima! Duvido que a conversa ,pós-MSN, não acabe em confusão. No MSN ,a sedução reina, fluem assuntos que, ao vivo, jamais seriam falados. Como o nome do programa diz...windows...janelas se abrem. A imaginação não tem limites.

O velho convite para o cinema perdeu-se com o tempo. No cinema, a conversa é baixa. O tom de voz tem que ser neutro. Não existem exclamações ou emoticons para serem usados. No cinema, em tom baixo, a meia luz, a aproximação é obrigatória. Você tem que chegar perto para ser ouvido, para ser entendido, para ser lembrado e depois tocado. Tocar assusta. Porque esse toque exigiu demais. Foi necessário sair da frente da tela. Você teve que arriscar. Pelo MSN tudo fica mais fácil. Um emoticon fala por você. Além disso, o MSN não traz junto o cheiro. Aquele perfume que desperta os mais secretos desejos e lembranças. Aquele cheiro, que ao ser sentido novamente, nos remete diretamente a pessoa vista, ao vivo. Sem telas ou pedidos estranhos, esquisitos. Ao vivo a vida segue. Ao vivo a vida nos traz cheiros. Sem outras janelas abertas. Sem sermos reféns da dúvida eterna: SERÁ QUE EU SOU A ÚNICA JANELA ABERTA NA VIDA DELE(A)? Pensando bem...a idade das cavernas não é tão ruim assim.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Big Brother, Collor, Dourado e o patinho feio...todos fomos um dia?

O fato de eu trabalhar com grupos chama a atenção das pessoas. Psicoterapia individual já é uma situação que muitas pessoas veem com estranheza. Psicoterapia ou grupoterapia ainda mais. Se sozinho já é esquisito, imagina em grupo. Diversos trabalhos científicos, realizados por pesquisadores do mundo inteiro, mostram que a psicoterapia de grupo é altamente efetiva. Cabe ao paciente escolher a forma que mais lhe convém. Dentro do estudo dos grupo, existem as dinâmicas grupais. Ou seja, a forma como os grupo funcionam.

Todos nós, estamos inseridos em grupos. Primeiro a família, depois os amigos, a escola, a sociedade em que estamos inseridos, o time do coração...etc, etc, etc. Ou seja, sempre estamos em algum grupo. O ser humano é gregário por natureza. 

Não vou criticar o Big Brother, esse não é o meu papel. Pediram que eu escrevesse sobre o grupo, o funcionamento do grupo. Por não ser o meu programa de TV favorito e nem ter acompanhado o andamento do programa inteiro, fiquei excluído desse numeroso grupo de brasileiros que assistiu o reality show. Mas fui obrigado a assistir a final. O que foi suficiente. Afinal, um resumo sobre o que aconteceu durante todo o desenrolar do programa aconteceu no dia decisivo.

Milhares de brasileiros se inscrevem todos os anos em busca da fama e da grana oferecida. 1 milhão e meio não é de todo ruim. Alguns atingem o pseudosucesso. São selecionados e ingressam na tão sonhada casa. Lá dentro, tem suas vidas expostas em praticamente todos os lares brasileiros. Durante os primeiros dias, é fácil manter uma imagem perfeita. O tempo passa, surge um grupo dentro daquele ambiente fechado. As vaidades, as manias aparecem com força máxima. Personalidades de todos os tipos são confrontadas. Diferenças de vida, de pensamento são postas em convivência.

A cada semana um participante é eliminado desse jogo. Creio que aqui começa a vitória do gaúcho e colorado Dourado. Ele havia sido eliminado em alguma edição anterior. Por favor, me entendam e nem me peçam a importante informação sobre qual a edição em que ele participou e foi eliminado anteriormente. Seria demais pra mim. Ele reingressa na casa, com outra participante também eliminada em alguma edição passada. Os novos participantes não gostaram. Esse novo grupo não gostou. Unidos, decidiram eliminar os "velhos" participantes". Péssima idéia. Havia um microgrupo dentro do pequeno grupo. Os antigos tinham uma única chance. E usaram para a sobrevivência de um deles. Ou seja, o rejeitado gaúcho ganhou uma sobrevida. Entretanto, ficou sozinho na casa. Aqui começa a sua vitória. rejeitado por todos, excluído, deixado de lado ele se fechou. E teve sorte nessa hora. Foi salvo novamente, na segunda semana. 

A partir daí todos sabem o final. Ele ultrapassa os paredões contra os mais fortes postulantes ao efêmero sucesso do Big Brother. Agora surge um outro grupo. Os telespectadores. Que desejando justiça, derrubam os fortes candidatos. O pensamento de milhões de brasileiros foi: ele enfrentou TODOS sozinhos, NINGUÉM gosta dele...isso já me aconteceu uma vez e é muito ruim! Diante desse novo fenômeno de grupo, ele ressurge das cinzas e conquista o título. Sua vida exposta, milhares de entrevistas, fãs espalhados por um país de dimensões continentais elevam o patinho feio ao posto de cisne! A história tem final feliz. 

Dourado recria no século 21 a história do patinho feio. Aquele que é estranho, esquisito, rejeitado por todos. Mudaram os personagens, a forma como o patinho feio vira o cisne. Mas a essência foi mantida. Isso já aconteceu com todos nós em algum momento de nossas vidas. 

Realmente, os grupos existem...assisti a final...parei pra ver o Big Brother...pensando bem, hora de trabalhar. Nada de ser excluído por algum grupo. Talvez eu acabe no Big Brother...ou quem sabe vire presidente do Brasil...uma vez surgiu um caçador de marajás...nossa, que medo! E conquistou os votos de milhões de brasileiros. Ele prometeu acabar com os "ladrões". Acabou sofrendo um impeachment e perdeu o cargo. Nunca esquecendo o sumiço do dinheiro das poupanças de milhões de brasileiros. Ele era o líder dos marajás. Grupos e seus fenômenos...cuidado...nem sempre o patinho feio vira um cisne...ele pode ser realmente feio. Esses contos de fadas...o final nem sempre é tão feliz. Pense na hora de votar. Pode não ser o Dourado novamente...


segunda-feira, 22 de março de 2010

O bíceps, o decote e o bicho papão...


?quanto vale a vida acima de qualquer suspeita?
?quanto vale a vida debaixo dos viadutos?
?quanto vale a vida perto do fim do mês?
?quanto vale a vida longe de quem nos faz viver?



Humberto Gessinger


Existem dias em que eu me pergunto isso. Quanto vale a vida? O trecho que retirei da música homônima me leva a pensar, refletir. Vivemos num mundo onde a futilidade toma conta. A beleza ocupa um espaço cada vez maior. Mas aí eu pergunto, o que é beleza? Atualmente, beleza pra mim é ganhar um sorriso do meu filho. Ah...um sorriso do pequeno João não tem preço. Atrás daquele sorriso está afeto, carinho, amor, confiança, dependência, cumplicidade. Sim, cumplicidade. Existem brincadeiras que são nossas. Pertencem a nós dois. Ninguém entenderá o monstro que devora barriga. Mas, para mim e para o pequeno João, existe sentido. Qualquer outro pode tentar me imitar. Ele vai olhar, olhar e sair. Porque esse é um momento entre uma dupla. Uma relação de confiança.

A vida moderna não é assim. Ela exige horas e horas de academia. Ela exige o maior dos silicones e o maior dos decotes. Calma, não estou fazendo a apologia "morra silicone". Não é nada disso. Acho que existem situações em que é importante para a auto-estima da pessoa. Ela vai se sentir melhor com o seu corpo. Essa é uma situação bem diferente.
Estou falando do silicone por silicone. Do silicone gerando um mega-macro-giga-hiper-super-seio maior. Maior? Não é maior. É algo assustador. Como duas melancias suspensas. Ousa desafiar as rígidas leis da gravidade. Somado a isso, uma blusa ajustada e um decote "provocador". Provocador? Na minha terra isso tem outro nome! 

Após horas de academia, de horas numa clínica ajustando os seios, é hora da caçada! A noite espera os mais bem preparados. Uma caçada de seleção natural. Os mais belos se encontram. É um encontro fantástico. Os assuntos só poderiam ser os mais diversos e profundos possíveis. Um diálogo do tipo:

Garota: oi...que lindo teu bíceps...
Garoto: nossa, esse teu silicone me diz tudo...
Garota: nem te conto, baita trabalho escolher o tamanho que ficasse adequado pra mim...
Garoto: entendo....passo por isso na academia...sempre um peso a mais...
Garota: cara...tu é demais
Garoto: é, eu sei...tu também...
Garota: eu também sei...todos me dizem...

Depois de se conhecerem profundamente, trocam um beijo digno dos protagonistas da novela das oito. Minutos e minutos. Essa relação vai pra frente! Será?

Na minha opinião, não, nunca, jamais! Conhecer alguém é um pouco diferente. Exige paciência, calma, carinho, confiança. Conhecer alguém exige olhar o outro. Como assim olhar? Olho no olho é coisa para seres evoluídos. Olho no olho exige cumplicidade. Olho no olho envolve amor. Olho no olho expõe as nossas fraquezas, as nossas angústias. O olhar revela a alma. Diante disso, é mais fácil, ou menos complexo, mudar a "fachada". 

O que me revolta são os frustrados. Existem pessoas que convivem bem com a superficialidade. E não há mal nenhum nisso. Isso não traz nenhum tipo de sofrimento ou coisas afins. Nada de olho no olho. Nada de escolher um cinema em boa companhia. Nada de jantar romântico. Nada de uma conversa que dure horas e horas. E ,no meio dessa conversa, o nome de um filho aparece, por que não? Ou então, um provável casamento no Taiti numa ilha paradisíaca.

Fugindo do medo do envolvimento, é mais fácil criticar quem pode. Ou melhor, quem consegue se envolver. Quem evoluiu a tal ponto. É muito mais fácil dizer que a balada estava dez! Que tinham milhares de gatinhos e gatinhas a disposição. É mais fácil usar o MSN para mostrar uma fachada que não existe. É mais fácil criar um orkut "fake" e observar a vida alheia. Olhar as fotos de quem optou por viver. Pensando bem, feliz daquele que não está no orkut. Pois só assim não terá sua vida devassada, invadida pelo olhar indiscreto de um voieur cibernético. Que foge do contato ao vivo, que foge do olhar. Mas que olha a vida passar na tela como um video-game da inveja. Uma relação vazia será construída.

Resumindo, vou brincar com o monstro que come barriga...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mudar...

Tá aí um verbo interessante. Observando, numa primeira “olhada”, você acha bacana. Pára e pensa: “bah, mudar é legal, me mostra novos horizontes”. Essa é, à primeira vista, a primeira impressão. Pensando um pouco mais, você começa a ter novas visões, uma mudança realmente surge. E talvez você pense: o que eu quero mudar?
Pensar na mudança do mundo externo é uma coisa. Pensar na mudança do “seu” mundo interno é outra. Bem diferente. “Como assim, mundo interno?” - você deve estar pensando. É aquele que somente você conhece. Aquele que entra em funcionamento quando você pára e viaja. Sabe a expressão “viajando”? Isso mesmo, é o que acontece quando falam com você, mas você não nota nada ao seu redor.
Ano passado, o MEC mudou o ENEM. E mudou a forma de ingressar em boa parte das universidades brasileiras. A mudança foi externa? Sim e não. A forma de ingresso mudou. Mas isso gerou uma mudança em milhões de estudantes brasileiros. E aí está a mudança interna. Esses estudantes aguardavam para se deparar com uma prova desconhecida, composta de regras não muito claras. O resultado foi o aumento significativo na ansiedade. Trabalho há quase uma década na preparação emocional de vestibulandos e jamais imaginei visualizar tamanha mudança no comportamento deles. Obviamente, e com razão, a ansiedade aumentou. E, assim, ocorreram mudanças no padrão do sono, alteração dos hábitos alimentares, alterações significativas de humor, aumento no número de estudantes com problemas familiares.
Como médico especialista em psiquiatria, estudo o impacto dessas “mudanças” na vida dos estudantes. E, dessa vez, esse impacto foi profundo.  Foram necessários encontros com os pais, maior uso de medicação pelos vestibulandos, etc.
Diante disso, como enfrentar essa nova realidade? Mudando. E essa mudança é interna. Você deve ter em mente que as regras mudaram. Está cada vez mais complicado passar no vestibular. Já não basta ter todo o conhecimento das matérias. Claro que isso é fundamental para atingir a aprovação, mas é decisivo estar bem consciente das suas reações frente aos novos tempos. Provas longas com pouco tempo, candidatos ultrapreparados espalhados por um país de dimensões continentais. Você tem que saber tudo de tudo. E saber tudo sobre você. Conhecer seus medos e angústias, seus méritos e virtudes. Você deve saber a hora de seguir quando as coisas estão bem. E também saber a hora de mudar quando as coisas não estão dando certo. Isso não é uma tarefa simples. Exige o controle da situação.
Você escolheu os melhores professores, escolheu o melhor curso pré-vestibular. Nada disso vai adiantar se você não fizer a SUA parte nessa história. Falo disso com alguma autoridade. Trabalhando no Mottola, há quase dez anos, acompanhei estudantes muito bem preparados que não passaram no vestibular. Mais uma vez, você deve estar se perguntando: mas como? Eu disse antes, não basta saber tudo de tudo. É preciso saber as regras do “jogo”, conhecer a si mesmo. Isso exige trabalho e dedicação. Isso exige a mudança. Você tem que ter em mente que não existe matéria impossível de ser entendida. A partir de agora, existe a matéria que você ainda não estudou! A partir de agora, matemática não é uma divindade de outra civilização. Ela faz parte do seu dia-a-dia e você vai entender as regras dos polinômios, a lógica das paralelas que nunca irão se cruzar. Ah, e não se esqueça: uma redação por semana! Ela vale muito e decide no atual momento. Tudo vai fazer sentido. Vai depender de você.
Eu trabalho com essa outra parte. Com o conhecer a si mesmo. Com a mudança interna. Eu tento, dentro do que tenho conhecimento e do que pesquisei ao longo desses anos, ajudá-lo a lidar melhor com esses desafios. Ou seja, minha função é agregar o conhecimento com uma mente sã.
Todos os anos, peço que alguns “caras” que conheço nesse percurso escrevam a sua experiência ao longo da caminhada. São histórias reais, de pessoas como você, que tinham medos e angústias, mas que lutaram e superaram a barreira do vestibular. Conheci esses “caras” na palestra. Essa mesma que estou o convidando a assistir. Ela é a porta de entrada para que possamos nos conhecer. Nela, você vai entender como funciona o trabalho que realizo. Você entenderá melhor a forma e o conteúdo desse projeto que é pioneiro no país. Tudo isso começou em 2002, aqui no Mottola.
Hoje, esse projeto tem reconhecimento nacional e internacional. Matérias foram veiculadas nos maiores meios de comunicação do país. No Mottola, descobrimos quais são os cursos que tem o maior nível de ansiedade, qual o sexo que é o mais ansioso. E sabe como chegamos até aqui? Trabalhando, estudando e pesquisando. Publicamos um trabalho na Revista de Psiquiatria da USP. Você pode conferir tudo isso no blog. Lá, também estão os links das matérias publicadas.
Sabemos técnicas de estudo que aumentam a capacidade de um aluno realizar uma tarefa com 8 vezes mais chances de obter sucesso que outro que não tem esse conhecimento. Há ciência em tudo na vida. E nós, aqui no Mottola, nos interessamos por isso. Estudamos tudo de tudo e um pouco mais. Estudamos, inclusive, uma forma de ter estudantes saudáveis. Sem promessas milagrosas ou empirismo.
Vou deixar você com os depoimentos dos estudantes do ano passado, o ano da mudança, do novo ENEM. Vale a pena ler. São histórias de “caras” muito legais. Agora, pare e pense. Leia o blog, lá você vai encontrar todos os depoimentos dos estudantes de anos anteriores, além de informações complementares. Você também pode seguir no twitter, uma forma rápida de entrarmos em contato, que foi muito útil.
Cabe a você parar e pensar. Se quiser ajuda para mudar, conte comigo.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rapidinho...

As discussões existentes sobre educação tem me chamado a atenção. Em época de vestibular, NOVO ENEM, SiSU, etc, etc, etc, esses assuntos saltam aos olhos. Mas o que fazer? Essa pergunta domina o dia a dia dos vestibulandos. Todos estão ansiosos. Passado o carnaval, chegamos ao novo ano. Chegamos em 2010! Muitos ainda estão decidindo, fazendo escolhas. Qual o cursinho, o professor, o local mais adequado, a melhor estrutura, o melhor programa, onde eu faço? Entendo que isso é importante, mas não é o decisivo. Claro que a dupla aluno-professor deve funcionar harmonicamente, sem desconfianças, sem sobressaltos. Mas o mais importante está na estratégia.

O que é estratégia? Quando se vai para uma decisão é preciso pensar em todos os detalhes. As descobertas apresentadas pelas neurociências nos colocam frente a uma nova realidade, um novo conhecimento do cérebro humano. Sabemos que não adianta estudar 25 horas por dia. Não conseguimos fixar a atenção durante todo esse tempo. Precisamos de intervalos menores, mas de grande intensidade de concentração. 

Esse talvez seja o principal aliado no grande problema verificado no ENEM. Uma prova grande com pouco tempo. Saiu-se melhor o estudante mais ágil, mais bem preparado na execução de grande quantidade de exercícios em pouco tempo. O aluno que foi treinado sob grande pressão levou vantagem. Veja bem, não quero fazer a defesa da grande quantidade de aulas durante o dia. Quero a mescla entre aulas e simulados.

Capacitar o aluno é uma tarefa árdua, mas fundamental nesse momento. A realização de tarefas com metas claras e objetivos bem definidos são de suma importância. Colocar o aluno sob pressão antes do dia da prova. Isso tornará o dia "D" uma seqüencia do trabalho realizado durante o ano. 

Pensei nisso depois de diversas conversas com vestibulandos. O que mais ouvi não foram queixas sobre a dificuldade da prova. Mas o seguinte discurso era comum a todos: "se eu tivesse mais duas horas para resolver essa prova, teria ido muito melhor". Diante disso, é hora de buscar soluções. E rápido...

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Uma música que fala por si só...

Sexta-feira. Mexendo nos meus cd´s e dvd´s antigos, encontrei o primeiro acústico dos Engenheiros. Procurei uma música/letra que refletissem a imagem da alma num momento de solidão. Considero essa letra uma obra-prima. Triste, sim. Mas a vida é feita de altos e baixos. E precisamos encontrar a melhor forma de andar só. Mesmo que seja assustador.
Espero que gostem...

Ando só (Letra e música Humberto Gessinger)


ando só
pois só eu sei
pra onde ir
por onde andei
ando só
nem sei por que
não me pergunte
o que eu não sei
pergunte ao pó
desça ao porão
siga aquele carro
ou as pegadas que eu deixei
pergunte ao pó
por onde andei
há um mapa dos meus passos
nos pedaços que eu deixei
desate o nó
que te prendeu
a uma pessoa que nunca te mereceu
desate o nó
que nos uniu
num desatino
um desafio
ando só
como um pássaro voando
ando só
como se voasse em bando
ando só
pois só eu sei andar
sem saber até quando
ando só


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O gosto do bolinho de batata...


"Somos o que somos por causa daquilo que aprendemos e lembramos", Eric Kandel, prêmio nobel de Medicina em 2000. 





O gosto do bolinho de batata que a minha vó fazia é inesquecível. Mais do que o gosto, lembro dela cozinhando a batata, descascando a batata, amassando a batata. Logo em seguida, ela começa a acrescentar os outros ingredientes. Leite, ovos, sal e outras coisas que eu não lembro muito bem. Tudo era cuidadosamente misturado. Um a um os ingredientes eram misturados e davam consistência àquela mistura. Meio massa, talvez? Nunca encontrei a palavra certa para definir essa mistura.  Ela deixava a "massa" descansar um pouco. Descansar é deixá-la quieta, com um pano cobrindo durante algumas horas. Nesse intervalo, ela dava início ao preparo do guisado. Não era o guisado de máquina, esse vendido no supermercado. Minha vó cortava com as mão. Dizia que a máquina tirava o gosto da carne. Sei que é uma teoria ilógica, mas que fica muito mais saboroso cortado com as mãos, eu garanto que fica. A cada corte da faca pequenos pedaços de carne surgiam. Todos jogados na panela para o cozimento. Junto ia a cebola, o tomate, os temperos mais diversos possíveis. Com o calor na panela, um aroma inesquecível se espalhava pela casa. Terminado o guisado e o descanso da massa, era hora do trabalho mais difícil. Fazer pequenos bolinhos com aquele guisado dentro. Tudo feito com as mãos cuidadosas dela. Passo a passo, sem nenhum pressa. Um erro e tchau bolinho! Depois, eles eram mergulhados na frigideira para a fritura final. Um novo cheiro surgia e tomava conta da casa. Até chegar à mesa e serem devorados numa fração de segundo. Crocantes por fora, macios por dentro. A mistura daquela "massa" de batata com o guisado...meu Deus! Seria algo como uma batata frita gigante recheada com guisado. Imagine isso...eu garanto, é melhor ainda!

Pare e pense um pouco, quais lembranças são inesquecíveis para você? Esse episódio aconteceu quando eu tinha por volta de 6 anos de idade. Lá se vão quase 30 anos. E eu consigo me lembrar de cada passo. Todos eles na ordem. E nunca sairão da minha memória. Ou seja, alguma coisa dentro do meu cérebro se modificou. Caminhos foram criados. Eles são capazes de resgatar essa informação facilmente. Não tenho dificuldade alguma. Aliás, vejo a imagem nitidamente. Recordo de detalhes como o local, a cor da casa, móveis e tudo que cercava o ambiente. São lembranças prazerosas da infância. 

Por que não usamos isso na hora de estudar? Por diversos motivos. Alguns conhecidos: grande volume de informações, desmotivação, medo de frustrar-se tentando entender uma matéria que já rotulamos como impossível de ser compreendida e por aí vai.

Como um estudante vai entender funções em matemática se ele já tem um pré-conceito de que não será capaz de aprender aquela matéria? Antes de iniciar, ele já diz: NUNCA vou entender isso! A lembrança que surgirá será desagradável, indigesta. Nosso cérebro não gosta desse tipo de experiência. Gosta de coisas prazerosas. Você não precisa se transformar num grande gênio para se dar bem em matemática ou qualquer outra matéria que seja desagradável. A missão é transformá-la em algo palatável Algo fácil de ser digerido. Como a minha lembrança do bolinho. Ou como qualquer lembrança que você tenha tido. Pare e pense muito antes de começar algo que não goste, mas que é necessário aprender. Descobrir um jeito de aprender a apreender. Frase batida mas que será útil na construção do conhecimento. Ser persistente é o primeiro movimento nessa empreitada. Talvez você lembre disso...


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fala aí Vítor!

Vítor Rocco Torrez, 18 anos. O cara que respondeu as perguntas abaixo passou em 3 vestibulares de Medicina. Todos em instituições públicas. Na minha opinião, um dos melhores estudantes brasileiros no ano. A proeza dele é digna de elogios. Ele passou na FAMEMA, que fica em Marília (SP) e é estadual. Foi aprovado na Medicina da UFRGS, que todos nós conhecemos bem e dispensa apresentações. Mas, no meu ponto de vista, o grande feito dele foi ter sido aprovado na Medicina da UFCSPA. Ele concorreu com os melhores estudantes brasileiros. Uma prova longa, cansativa. Que exigiu muito dos alunos. Além disso, disputou a vaga sem ter noção nenhuma do que era bom ou ruim. Ninguém tinha idéia de como seria a nota de acesso. Eu tomei a liberdade de considerar o ENEM o vestibular mais difícil da história. Ou seja, os 88 melhores estudantes brasileiros colocaram o nome ali. Sonho de todos. Poucos conseguiram. Espero que gostem. 

DG - Apresente-se...
V -Me chamo Vítor Rocco Torrez,  tenho 18 anos e, atualmente, moro em Porto Alegre.

DG - Fez vestibular para ????
V- Medicina

1)     DG -  Quais motivos te fizeram escolher esse curso?
V - Não sei muito bem... Eu sempre dizia que faria alguma engenharia, mas desde o início do 3º ano eu não consegui mais me ver em outro curso que não a medicina. Não consegui me enxergar o resto da vida construindo chips ou fazendo cálculos, apesar de adorar a matemática. Notei que o que me interessava mesmo eram as descobertas na área da saúde, e decidi seguir para esse lado.

1)      DG - Estudou aonde no ensino médio?
V - Estudei no colégio Leonardo da Vinci – Alfa, em Porto Alegre.

DG -  Levou a sério o ensino médio?
V - Levei, mas nunca fui muito de estudar. Provavelmente por isso não tenha passado na primeira tentativa...  =D

DG - Como foi a preparação para o vestibular?  
V - No início do ano, prestava atenção nas aulas e participava de todas as aulas extras, mas não estudava em casa. A partir de junho, mais ou menos, passei a me dedicar mais. Chegando em casa, sempre fazia os exercícios das matérias daquele dia. Não tinha tempo para fazer todos, então selecionava os principais. Porém, nunca deixei de lado o lazer. Todos os dias achava um tempo para os amigos e, pelo menos uma vez por semana, praticava algum esporte pela manhã. Acho que isso foi fundamental pra não chegar exausto no fim do ano. Outra coisa que achei de fundamental importância para o sucesso nas provas, foi nunca ter faltado nos simulados realizados pelo cursinho. Quase todos os fins de semana, tínhamos provas de dificuldade até maior do que a do próprio vestibular, o que me deixou realmente tranqüilo quando era pra valer, com o pensamento de “é apenas mais um simulado...” tão repetido pelos professores.

DG - Quanto tempo tu levou para passar?
V - Um ano. Fiz o vestibular quando acabei o colégio e não passei. Em 2009, fiz cursinho e os resultados estão vindo.

DG - Como era o teu dia a dia?
V -  De manhã, fazia os exercícios que não havia terminado na noite anterior e, algumas vezes, praticava algum esporte. Durante a tarde, ia para a aula e, ao chegar em casa, de noite, passava um tempo falando com a namorada e com amigos e começava a resolver os exercícios dos conteúdos passados naquele dia. Nos fins de semana, revia algo que restava de dúvida das aulas da semana e usava a maior parte do tempo para lazer.

DG - Fez muitas mudanças na tua rotina de estudo?
V - Sim... Após o fracasso no vestibular de 2009, vi que nunca havia estudado pra valer. Resolvi levar os estudos mais a sério durante esse ano.

DG - O componente emocional te ajudou na hora da prova? O que tu fez para aliviar a ansiedade no dia das provas?
V - Sim, acho que foi aí que ganhei uma verdadeira vantagem sobre alguns concorrentes. Cheguei em todas as provas realmente calmo, e dou o crédito por isso a duas coisas: o acompanhamento com o Daniel e os simulados que fiz. Os simulados serviram para me dar confiança e para me acostumar à rotina de provas. Por terem maior nível de dificuldade, ao chegar no vestibular, me sentia seguro ao iniciar as resoluções. Quando eu cansava ou passava por algum problema que influenciava no ritmo dos estudos, ia falar com o Daniel. As conversas com ele sempre ajudavam a me tranqüilizar e a voltar o foco aos meus objetivos iniciais.

DG - O que tu considera decisivo para alcançar o sucesso? Tu passou, até agora, em três instituições públicas, sonho de todo brasileiro.
V - Foco, disciplina, acreditar em si mesmo e calma.

DG - Qual o teu conselho para quem quer passar num vestibular concorrido, como são as públicas... 
V - Acho que o mais importante para os estudos é prestar atenção de verdade nas aulas. Fazendo isso, ao chegar em casa, um ou outro exercícios já bastarão pra revisar aquele conteúdo aprendido, ao invés de ter que reestudá-lo. Eu aconselharia a pessoa a destinar o ano para os estudos, mas sem deixar de reservar algum tempo diário para distrair a cabeça com outras coisas.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Parecia inofensivo...

Umas das maiores aflições da humanidade é saber o que é certo ou errado. A diferença entre o bem e o mal. O que é certo para um, não é para outro. A partir daí, surgem questões envolvendo ética, moral e valores. Entram assuntos como política, artes, religião, time de futebol e o que você mais puder e quiser imaginar. Em maio de 2009, acompanhamos uma dessas intermináveis discussões. E ela envolvia a educação brasileira. O MEC, percebendo que as coisas não estavam bem na educação do nosso querido país, resolveu mexer nesse negócio. 

Certamente, devem ter participado importantes entendidos em educação  para a elaboração desse novo modelo. O problema era o ensino superior. E, mais do que isso, o sistema de acesso. Era hora de mexer no vestibular.

Na época, quando li as regras do novo ENEM, comentei com todos: por esse novo método haverá uma elitização ainda maior no sistema de seleção ao ensino superior. Com as novas regras criadas, era perceptível que as coisas iriam dificultar ainda mais. E foi o que aconteceu.

O novo ENEM criou um monstro bem feio. Algo como os Backyardigans. Faz um tempo que observo filmes infantis com o meu filho. Existe alguém que não conhece os Backyardigans? Todo mundo conhece! Eu, por exemplo, já assisti todos os episódios. Voltando ao que interessa. Dentre os personagens dos Backyardigans está um pinguim amarelo e azul que fala! Putz, ia me esquecendo, ele também é surfista! Ou seja, um bicho meio estranho. Ninguém nunca viu um pinguim amarelo e azul. Mas que fala, eu já! Isso é uma outra história que vou contar num futuro distante. As crianças gostam, a inocência gera um desconhecimento do perigo. O ENEM gerou isso. Quem não prestou atenção nas novas regras, se deu mal. O bicho criado ia atacar um outro "bixo". Sim, o bicho ENEM ataca o "bixo" vestibulando.

De acordo com a nova regra, o vestibular passava a ser NACIONAL. Você fazia a prova em "Pipoquinha" do Norte (que o pessoal de "Pipoquinha" do Sul não se irrite pelo esquecimento!) e concorreria a uma vaga em qualquer uma das Universidades que haviam aderido ao novo ENEM. Estava criado um sistema de disputa "ultraconcorrido". 

Não estou defendendo a regionalização do ensino. Mas, num país de dimensões continentais, na minha opinião, isso não é viável. O novo ENEM esquece as características de cada região. As questões não cobrarão NUNCA, conforme foi dito no edital, questões  de conteúdo regional. Sul e norte, leste e oeste. Nada disso interessa mais. 

Com milhões de candidatos espalhados por todo o país, era evidente que a disputa seria acirrada. E numa disputa assim, leva vantagem quem está melhor preparado. Tenho certeza, após a realização da prova, que não é somente a questão geográfica que define vantagem. Li diversos comentários sobre a vantagem que São Paulo levou nesse novo sistema de disputa. E ,se São Paulo levou vantagem, é por um único motivo: alunos bem preparados! E como são muitos alunos, pior para todos.

O problema está na forma como se constrói um aluno bem preparado. Um vestibulando de elite se constrói com um bom aporte financeiro. Sim, com dinheiro. Diante disso, percebo dificuldades. Os grandes centros tem as melhores escolas, os melhores professores e , conseqüentemente, terão os melhores alunos. Como encontramos de sobra essa matéria-prima em São Paulo, o resultado mostrou isso. E foi justo! Sei que muitos não concordarão com o que digo, mas o ENEM selecionou os melhores estudantes brasileiros. Colocar o seu nome no listão do SiSU foi uma tarefa Hercúlea! Davi contra Golias! Falando da minha cidade e do meu estado, os listões da UFPEL e da UFCSPA, para Medicina, foram formados por verdadeiros heróis. Estudantes com um nível intelectual acima da média, com um capacidade cognitiva exemplar. Responder 180 questões e uma redação em, aproximadamente, 10 horas é tarefa pra lá de difícil. Exige conhecimento, estudo, capacidade de raciocínio, treinamento e controle emocional. Para se ter tudo isso só com muito investimento. Ou seja, privilégio de poucos no nosso país.

Passaram no novo ENEM os estudantes que tiveram os melhores professores, os melhores colégios. Tudo do bom e do melhor. Só que isso custa caro. Preparar-se para esse desafio exige tudo isso e mais um pouco. O estudante deve dedicar-se integralmente. Ele estuda, estuda e estuda. Entretanto, muitos desses estudantes tem que trabalhar. Penso que aí começam as injustiças. Apenas uma pequena parcela tem condições de se dedicar integralmente e tem condições financeiras de arcar com todos esses custos. Faça você mesmo uma pesquisa e tente descobrir quanto custa a preparação mensal de um vestibulando. Estamos falando de valores médios de 1000 reais. Eu falei média! Quantas famílias brasileiras tem condições de custear o ensino de seus filhos? Pouquíssimas. 

O MEC deveria era investir em escolas, remunerar melhor os professores, estimular a criação de cursos técnicos pelo país. Mas, não. Atacou o vestibular, sem dó nem piedade. Ops, será que atacou mesmo? Não! Ele turbinou o vestibular. O novo vestibular é ainda mais elitista que o antigo. Sai na frente quem tem o melhor ensino. E ele está no sistema privado. Portanto, custa caro. Sei que amanhã vou receber uma carta da comunidade "sou pobre e passei", mas essa carta será a exceção. Como toda regra... 

A pesquisa mostrou que 80% dos alunos não gostou do SiSU. Não foi surpresa. O que me interessa está atrás dessa informação. O que cada voto quis dizer. Percebi  que realmente as pessoas não simpatizaram com esse método. Muitas se sentiram injustiçadas pelo critério. Só que não foi ele o culpado. O sistema criado é justo. Os melhores do país foram aprovados. O injusto é a forma de se tornar um dos melhores. Agora é um outro papo. Esse é mais profundo. O Lula que resolva!




   

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Vida sofrida...

Porque todos dizem que a vida é sofrida? Tenho me perguntado muito o que é uma vida sofrida. Em épocas de tragédias pela web, tudo fica mais rápido, ágil. Tudo ao alcance dos olhos num piscar. Você clica e lá está o Haiti destruído. O mundo comemora o salvamento de mais uma vida sob os escombros. Como pode uma pessoa sobreviver 11 dias embaixo de toneladas de concreto? Milagre? Talvez.

Mas será isso o sofrimento? Não sei. A psiquiatria me dá a oportunidade de ouvir histórias de vida. A relação médico-paciente permite entrar nos cantos mais escuros da alma. Será que ali está o sofrimento? O diálogo seguinte aconteceu numa das tantas tardes de sábado em que trabalho numa pequena cidade do interior. Não foi hoje. Pois hoje está tranquilo. Tanto que estou escrevendo.

Fui chamar a paciente. A secretaria me passou a ficha e ela se chamava Rosa. Sempre observo os detalhes do paciente. O caminhar, as roupas, a face, o jeito, se está sozinho ou não. Dona Rosa parecia envelhecida. Tinha rugas, marcas de expressão. A linguagem técnica me irrita. Maldita dermatologia. Qual a diferença entre uma mancha e uma mácula? Minha vontade era descobrir como aquelas marcas estavam ali. O que cada uma daquelas rugas significava na vida de Dona Rosa.

-Boa tarde Dona Rosa, como vai?
-Não sei doutor, por isso estou aqui.
-Mas então me conta...
-Eu posso falar? Percebi um receio, uma estranheza quanto a oportunidade que estava lhe dando. O simples ato de dialogar.
-Claro que sim...
-Doutor, fui casada durante 20 anos. Meu marido é alcoólatra. Tenho 3 filhos com ele. Toda vez que ele bebia me batia. Apanhei de todas as maneiras que o doutor pode imaginar.
-Há quanto tempo a senhora está separada?
-Há 3 anos. Mas ele segue me ameaçando. Diz que vai mandar uns amigos me matar. Que se não me matar, vai matar meus filhos. A gente já se acostumou. Toda vez que ele bebe, é dia de sofrimento. Fechamos as portas da casa, as janelas. Fica um silêncio só.
-E como a senhora anda se sentindo?
-Não sei mais. Sinto um vazio na alma. Sinto que me levaram a esperança de viver. Não sei o que sobrou de mim. Apanhei muito doutor.

Algumas coisas ficaram mais nítidas nesse momento. A paciente apresentava sinais de envelhecimento que não eram compatíveis com a sua idade. O seu olhar era apagado, "murcho", sem vida. As cicatrizes não eram só na pele. Eram marcas profundas na alma. Foram escritas pela submissão. Por momentos de crueldade. Algo que vemos nos filmes e lemos nos livros de história. Resolvi perguntar porque ela veio consultar comigo.

-Mas como a senhora me descobriu aqui Dona Rosa?
-Doutor, não sei se o senhor é bom ou ruim. Mas não é da cidade. Eu precisava falar com alguém. Enfrento sozinha tudo. Paguei a consulta com o dinheiro de uma faxina que fiz durante a semana.

Parte do envelhecimento que falei estava nisso. Uma vida sofrida, de esforço diário pelo pão de cada dia. Mas uma vontade inacreditável de voltar a ser feliz. Uma vontade de mudar a vida. De sonhar com um futuro sem violência. Num mundo seu, em que não existam brigas, discussões, violência doméstica. No nosso mundo, esse maquiado pelo entretenimento, essas são situações distantes. Existem em filmes, em novelas. As brigas que vemos, são as do BBB, porque alguém não lavou a louça ou falou mal do outro. Na vida real, não tem líder para indicar o bicho papão para o paredão. Na vida real não tem o anjo dando o colar da imunidade. Na vida real a violência doméstica está ao lado. Embaixo do nosso nariz. Ninguém fala nada. Ninguém vê nada.

Dona Rosa segue consultando. Descobriu que tem direitos. Que pode se afastar desse mundo de sofrimento. Descobriu a Lei Maria da Penha. Seu marido está afastado. Ela ainda não sorri. Mas voltou a sonhar. Como ela mesmo me contou:

-Era um lugar com crianças, com mato em volta. Me senti feliz naquele lugar. Eu era uma das crianças. Pulava por todos os lados.

Não tenho como trazer Dona Rosa novamente para a sua infância. O tempo nos afasta das imagens antigas. A imagem do espelho é cruel. Ela mostra as marcas da realidade e do tempo. Talvez a nova felicidade de Dona Rosa seja ver seus netos correndo livres, brincando sem nenhum tipo de ameaça. E talvez essa seja a sua felicidade. O que é mesmo uma vida sofrida? Acredito que nunca vou ter essa resposta. Mas vou pensar muito mais antes de me queixar dela e de seus dilemas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Einstein e Freud se comunicaram...já o MEC...


O tempo é realmente relativo. Meu reveillon foi hoje. 2009, enfim, terminou. Mais precisamente às 23:59. No exato instante em que fechavam as inscrições no SiSU, ou sistema de seleção unificada. Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que foi o ano mais confuso no calendário do ensino médio na história do país. É sabido que a educação precisava passar por uma "reforminha", mas o que vimos e presenciamos foi o holocausto. Talvez o nosso 11 de setembro. Ou, quem sabe, o dia D da educação brasileira.

De uma só vez, MEC, INEP e outros entendidos, resolveram mexer na educação brasileira. Mas mexeram mesmo. Quisera eu que fosse para melhor. Dotado de um conhecimento superior e inquestionável, atacaram o problema da educação. E certos de onde estava o problema, foram lá! Estava ali, parado, quietinho. O vestibular era o vilão! Ele mesmo, leitor! Pense bem, você já não falou mal dele? Todos nós já falamos. Ou conhecemos alguém que falou. E os entendidos, dotados de superpoderes, o atacaram. Criaram um novo jeito de selecionar estudantes por esse Brasil varonil! Estava criado o novo ENEM. A partir de agora, estudantes de todas as classes, credos, cores, locais e tudo o que você puder e quiser imaginar, estavam em igualdades de condições.

Uma atitude messiânica, que visa salvar os fracos e oprimidos. A partir de agora, acabou a injustiça na educação. Todos estão em igualdade. Você pega a sua nota do ENEM e inscreve ela no SiSU. O próximo passo é escolher onde você quer estudar. Imagine você morar numa cidade litorânea, clima ameno, pessoas saradas. A sua chance definitiva de livrar-se dos quilos a mais adquiridos nos anos de vestibular. Fez-se a justiça!

Entre os dias 29 de janeiro e 3 de fevereiro tivemos a honra de ver o resultado dessas profundas mudanças. O estudante, de posse da sua nota, acessava o sistema, pela internet de banda larga, e escolhia o tão sonhado curso. Não foi bem assim.

Nem todos tinham banda larga. Nem todos tinham um bom computador em casa. Nem todos se prepararam adequadamente. Nem o site funcionou direito.

Via twitter, acompanhei o desespero de milhares de estudantes brasileiros. Criou-se até uma lista, ela se chamava #sisufail. No twitter, o símbolo # (ou jogo da velha, essa é o do meu tempo!), significa uma lista. E todos que digitarem esse símbolo, serão lidos pelos outros internautas, via twitter. Complementando, fail vem do inglês, e quer dizer caiu! O sisu caiu! Sim, leitor! O sistema não estava funcionando. Estudantes indignados se manifestavam com raiva, no início. Depois de um tempo, como estamos no Brasil, virou "gandaia". Frases do tipo: "é mais fácil encontrar o golden ticket do willy wonka do que se inscrever no sisu", surgiram aos borbotões! E o sisufail fez sucesso. Foi a lista da "hora" no twitter brazuca. A mais seguida e escrita. E por aí foi.

Usei a expressão favas contadas nos textos anteriores. Muitos me perguntaram o que era isso. Favas contadas é um negócio certo! Portanto, era favas contadas que isso aconteceria. Hoje, com o término das inscrições no sisu, já podemos afirmar algumas coisas, sem medo de errar.

O que antes era difícil, ficou ainda mais. As médias subiram para níveis jamais imaginados. Escores altíssimos em todos os cursos. Quem tinha uma boa nota, mas não era aprovado no seu curso, se inscrevia para outro. E assim se sucedeu durante 6 intermináveis dias. Você dormia aprovado, mas acordava reprovado. E ,no dia seguinte, lá ia o nosso Severino, personagem imortalizado por João Cabral de Melo Neto. Se você não consegue num dia, muda no outro. Não importava mais o curso. Importava, a partir de agora, é colocar o nome no sisu!

Toda essa nova engrenagem foi criada para ajudar o estudante. Inclusive, disse o ministro da educação, em meados de 2009, o SiSU diminuiria a ansiedade dos estudantes. Como psiquiatra, não vi isso. Muito pelo contrário. Poucas vezes, e já tenho alguma experiência em vestibular, vi cenas como as que presenciei nesses dias. Pais indignados. Filhos sem saber o que iriam fazer. Recebi muitas ligações de pais que me diziam mais ou menos assim: "mas como? Ontem ele tava aprovado e hoje não?". Sim. Esse é o método criado para auxiliar os estudantes.

Ainda não tenho uma opinião formada sobre o novo ENEM. Não sei se ele é melhor ou pior que o vestibular. Não sei se ele é bom ou mau. Para os estudantes, eu sei a resposta.

Não quero ser o profeta do acontecido. Mas tenho certeza que algum estudante perdeu a sua sonhada e merecida vaga por que não conseguir acessar o sistema. E nada será feito para reparar esse erro.

Acredito que o melhor seria repensar a educação pelo início. Pensar nas crianças. Repensar a educação infantil. Desse jeito, formaríamos cidadãos de verdade. Talvez ,nesse momento, poderíamos usar o SiSU. Um pouco de conversa faria bem a todos. Mesmo Einstein e Freud, seres nem tão dotados de inteligência assim, desceram do pedestal e trocaram confidências, trocaram humildes cartas. Ou seja, se importaram com a opinião do outro. Pelo visto, estamos longe ainda...


domingo, 31 de janeiro de 2010

ENEM+ SiSU= ANSIEDADE


A espera por um listão é angustiante. Todos sabem disso. Você faz a prova e espera longos dias. Parece que o tempo não passa. As horas são longas, as noites são maiores ainda. Será que vai dar? Será que não? Mas eu fui bem? Bah, vai dar sim! Fiz mais pontos que no ano anterior!

Tudo isso foi por água abaixo com o ENEM. O MEC descobriu um jeito de fazer uma espera ainda mais angustiante, mais sofrida.

Quando surgiu o novo ENEM, em maio de 2009, eu li as regras e avisei: vai ser um caos! E fui mal entendido. Alguns disseram que eu estava louco. Que eu estava exagerando. Li atentamente cada uma das várias páginas que explicavam as regras. Tinha a TRI, o SiSU...entre tantas outras coisas. E avisei: o listão vai deixar de existir. Se era angustiante com o listão. Seria pior com o SiSU.

Quando o listão é divulgado, você ESTÁ aprovado! Quando você está no SiSU, durante o dia, poderá estar fora pela manhã! Ou seja, você dorme aprovado e acorda REPROVADO!

O novo método de seleção funciona assim: você se inscreve durante o dia. Antes de conseguir, pena muitas horas. Sim, pena! Porque o sistema cai, porque são muitos os brasileiros que tentam acessar o SiSU ao mesmo tempo. Superada a fase do sistema, horas e horas, dias e dias tentando acessar o SiSU você se inscreve. Coloca a sua nota no sistema e espera. Acorda no dia seguinte e tá lá! Você PASSOU! Sim, passou! Seu nome está lá no listão! NÃO! Enganou-se, era uma pegadinha.

A pegadinha é a seguinte. Você se inscreve durante o dia. O sistema recolhe todas as novas inscrições daquele dia. E também aceita as mudanças que estão ocorrendo. Como assim mudanças? Um candidato que quer um determinado curso e tem uma nota muito alta, poderá descobrir que, com a sua nota, ele passaria em Medicina. Ou seja, ele abre mão do curso sonhado para passar em um curso com glamour maior. Na sua tola visão de mundo.

Dessa forma, o listão é móvel. Todos os dias, pela manhã, surge um novo listão. Imagine a angústia de um candidato que está muito bem colocado no primeiro dia. Isso não significa nada. Porque muita água vai passar por baixo da ponte. E, em 6 dias, ele poderá ser excluído do listão. Sim, ele que tanto sonhava e merecia aquela vaga, estará fora. Ele verá a sua colocação sendo transformada em pó. A cada dia ele vai caindo, caindo, caindo e...está fora!

Tenho pensado muito se é justo ou não. Na minha opinião, NÃO! Mas é a regra de um novo jogo. E a sorte está lançada. Sorte? SIM! Tenho certeza que quando as inscrições encerrarem, alguns candidatos estarão fora por não conseguirem acessar o sistema. Sendo assim, não se inscreverão no SiSU e perderão a sua vaga.

Num país de dimensões continentais, era favas contadas que isso ocorreria. Em algum momento, em alguma cidade longínqua, faltará luz, a internet discada cairá, o sistema vai falhar. E algum estudante perderá a chance de ter um futuro melhor.

Além disso, para o RS, essa mudança representou a NACIONALIZAÇÃO das vagas de duas grandes universidades: UFPEL e UFCSPA. A partir do SiSU, as vagas serão disputadas por todos os estudantes brasileiros. Mais do que isso: pelos MELHORES estudantes brasileiros. O que torna o processo ainda mais difícil.

É verdade, nunca pensei dizer isso: que saudade do listão!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

enem 2009? VERGONHA!


Trabalho há quase 10 anos no universo do vestibular. Ontem, escrevi sobre as mudanças que ocorreram ao longo dos últimos 13 anos. Ficou evidente que as coisas complicaram, estão mais difíceis. Mas o espetáculo proporcionado hoje, passou de todo e qualquer limite esperado.

O país inteiro sabia que o sistema não funcionaria direito para as inscrições no SiSU, ou Sistema de Seleção Unificado. Imagine 4 milhões de pessoas tentando acessar um site que comporta no "máximo" 200mil acessos simultaneamente. Era favas contadas. Não deu outra. A partir das 6h da manhã os estudantes estavam de prontidão tentando efetuar a sua inscrição preliminar. E não conseguiam. Alguns não sabiam nem o que realmente estavam fazendo.

Para completar o holocausto do ENEM, o Ministério Público de SC ingressa com uma ação pedindo o cancelamento da prova. Tudo isso depois da fraude no mês de outubro. Será que o que acontece, nesse momento, é muito diferente da fraude? A denúncia feita pelo MP de SC levanta dúvidas quanto ao sigilo da prova.

Diante de tudo isso, de indícios e evidências gritantes de que seria um caos, assistimos tudo passivamente. Aceitamos decisões arbitrárias sentados no sofá da sala. Brincam com o futuro de 4milhões de jovens brasileiros. Agimos com a letargia que nos é característica. O que aconteceria se o ENEM fosse aplicado na França por exemplo? Duvido que os estudantes franceses acatariam mudanças desse tipo. Haveriam passeatas, discussões amplas e significativas. O povo tem voz, se faz ouvir. É representante dele mesmo junto aos governantes. Não precisa de intermediários. Eles existem, mas se a coisa não vai bem, melhor ir sozinho. A montanha vai até Maomé? Não!

Estou escrevendo certo de que as coisas não vão mudar. Tudo seguirá o seu curso natural. Fernandinho Beira-Mar fará o ENEM novamente, poderá ocorrer uma nova fraude, seguiremos sem as 184 vagas de Medicina, talvez você consiga se inscrever no SiSU, talvez não. Tudo isso mostra que estamos distante do país que vive da sua imagem imaginária. O país da Copa e das Olimpíadas não consegue organizar uma prova de seleção. O país do pré-sal não se preocupa com a educação. Melhor...o país do pré-sal se preocupa com o Carnaval! Então, que siga o desfile da desordem e do desrespeito. Porque esse é bem organizado. Nunca falha.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Seguindo...

MÉDIAS

UFRGS

UFCSPA

1997

712,61

694,59

1998

705,39

698,14

1999

709,94

712,43

2000

707,41

703,66

2001

708.80

699.58

2002

708.28

716.60

2003

694,49

706,23

2004

700,66
706,86

2005

704,73
696,66

2006

718,23

Rompimento

2007

708,90

2008

722,59

Cotas

Cotas

675,21

2009

721,05

Cotas

671,81

2010

736,68

ENEM

Cotas

676,82

Recorri aos números. Busquei as notas dos últimos 13 anos do vestibular de Medicina. Fiz uma tabela e ilustrei alguns dados. Cada sinalização busca mostrar pontos importantes.
Observe que os anos passaram e a média pouco mudou. A variação da nota é decorrente de uma ou outra prova que foi mais "fácil" ou mais "difícil". Essa oscilação na média da prova ocasionava uma discreta variação para cima ou para baixo na média final. Repare que mudou a década e a mudança foi imperceptível.

A situação começa a mudar no vestibular de 2006. A antiga FFFCMPA rompe com a UFRGS e organiza o seu próprio vestibular. Estava acabando a união. Os vestibulandos de Medicina deixavam de optar pela UFRGS ou pela FFFCMPA. A partir daquele momento era possível fazer os dois vestibulares. Mais uma chance? Na minha opinião não. Fossem os listões estáticos sim. Como estáticos? Os candidatos fariam os dois vestibulares e ficariam nas mesmas posições em ambos. O que é impossível. O primeiro resultado mostrou poucos nomes em comum no listão. Ocorreram intermináveis chamadas.

O segundo aumento na média, que eu considero significativo, foi no surgimento das cotas. Além do rompimento UFRGS e UFCSPA , houve uma redução de 30% no número de vagas. Elas caíram de 140 para 98 vagas oferecidas para o acesso universal. A média subiu 14 pontos nesse ano. Nesse momento, as vagas da UFCSPA compensavam essa perda. Permanecíamos com um bom número de vagas para Medicina.

O terceiro e ainda mais significativo aumento na nota ocorreu em 2010. O "nascimento" de um novo ENEM mudou radicalmente a situação. Além de mexer na média final da UFRGS, houve a perda de vagas. Duas das maiores universidades gaúchas, escolas com tradição na formação médica, abandonam o vestibular tradicional. Aderem ao novo ENEM. Perdemos 184 vagas. Porque perdemos? Por que o ENEM é uma prova em âmbito nacional. O Brasil inteiro concorre. Foram disponibilizadas 595 vagas em todo o país. Dessas, 184 são vagas GAÚCHAS! O resultado era "favas contadas". As médias aumentariam por si só. Mas a adesão parcial da UFRGS ao novo ENEM piorou o quadro. As médias subiram significativamente. Chegamos aos "inimagináveis" 736 pontos.

Não sei se o ENEM está certo ou errado. A proposta inicial era criar um novo jeito de avaliar os estudantes. O que se viu na primeira edição foi uma repetição do tradicional vestibular.

Mexer na educação não é realizar uma nova prova. Mexer e mudar a educação é capacitar novos professores, remunerá-los dignamente. Mexer e mudar a educação é mudar a mentalidade dos estudantes. É ensiná-los a pensar. É ensiná-los a mudar o pensamento, a terem o seu próprio pensamento. É mudar a mentalidade de estudantes que não valorizam o estudo.

Atualmente, estudar é "feio". O estudante que "estuda" é menosprezado, desvalorizado pelos colegas. Ele é o "nerd". Legal é passar de ano sem estudar. Legal é criticar o professor que cobra e exige dos seus alunos. Não é o ENEM que vai mudar esse contexto. O que vai mudar a educação desse Brasil estagnado são políticos audaciosos e corajosos. Mas daí já tô pedindo demais. Hora de ajudar os que REALMENTE querem mudar a sua vida. O país, cabe aos governantes, e eu não vislumbro essa possibilidade num curto espaço de tempo.