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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

enem 2009? VERGONHA!


Trabalho há quase 10 anos no universo do vestibular. Ontem, escrevi sobre as mudanças que ocorreram ao longo dos últimos 13 anos. Ficou evidente que as coisas complicaram, estão mais difíceis. Mas o espetáculo proporcionado hoje, passou de todo e qualquer limite esperado.

O país inteiro sabia que o sistema não funcionaria direito para as inscrições no SiSU, ou Sistema de Seleção Unificado. Imagine 4 milhões de pessoas tentando acessar um site que comporta no "máximo" 200mil acessos simultaneamente. Era favas contadas. Não deu outra. A partir das 6h da manhã os estudantes estavam de prontidão tentando efetuar a sua inscrição preliminar. E não conseguiam. Alguns não sabiam nem o que realmente estavam fazendo.

Para completar o holocausto do ENEM, o Ministério Público de SC ingressa com uma ação pedindo o cancelamento da prova. Tudo isso depois da fraude no mês de outubro. Será que o que acontece, nesse momento, é muito diferente da fraude? A denúncia feita pelo MP de SC levanta dúvidas quanto ao sigilo da prova.

Diante de tudo isso, de indícios e evidências gritantes de que seria um caos, assistimos tudo passivamente. Aceitamos decisões arbitrárias sentados no sofá da sala. Brincam com o futuro de 4milhões de jovens brasileiros. Agimos com a letargia que nos é característica. O que aconteceria se o ENEM fosse aplicado na França por exemplo? Duvido que os estudantes franceses acatariam mudanças desse tipo. Haveriam passeatas, discussões amplas e significativas. O povo tem voz, se faz ouvir. É representante dele mesmo junto aos governantes. Não precisa de intermediários. Eles existem, mas se a coisa não vai bem, melhor ir sozinho. A montanha vai até Maomé? Não!

Estou escrevendo certo de que as coisas não vão mudar. Tudo seguirá o seu curso natural. Fernandinho Beira-Mar fará o ENEM novamente, poderá ocorrer uma nova fraude, seguiremos sem as 184 vagas de Medicina, talvez você consiga se inscrever no SiSU, talvez não. Tudo isso mostra que estamos distante do país que vive da sua imagem imaginária. O país da Copa e das Olimpíadas não consegue organizar uma prova de seleção. O país do pré-sal não se preocupa com a educação. Melhor...o país do pré-sal se preocupa com o Carnaval! Então, que siga o desfile da desordem e do desrespeito. Porque esse é bem organizado. Nunca falha.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Seguindo...

MÉDIAS

UFRGS

UFCSPA

1997

712,61

694,59

1998

705,39

698,14

1999

709,94

712,43

2000

707,41

703,66

2001

708.80

699.58

2002

708.28

716.60

2003

694,49

706,23

2004

700,66
706,86

2005

704,73
696,66

2006

718,23

Rompimento

2007

708,90

2008

722,59

Cotas

Cotas

675,21

2009

721,05

Cotas

671,81

2010

736,68

ENEM

Cotas

676,82

Recorri aos números. Busquei as notas dos últimos 13 anos do vestibular de Medicina. Fiz uma tabela e ilustrei alguns dados. Cada sinalização busca mostrar pontos importantes.
Observe que os anos passaram e a média pouco mudou. A variação da nota é decorrente de uma ou outra prova que foi mais "fácil" ou mais "difícil". Essa oscilação na média da prova ocasionava uma discreta variação para cima ou para baixo na média final. Repare que mudou a década e a mudança foi imperceptível.

A situação começa a mudar no vestibular de 2006. A antiga FFFCMPA rompe com a UFRGS e organiza o seu próprio vestibular. Estava acabando a união. Os vestibulandos de Medicina deixavam de optar pela UFRGS ou pela FFFCMPA. A partir daquele momento era possível fazer os dois vestibulares. Mais uma chance? Na minha opinião não. Fossem os listões estáticos sim. Como estáticos? Os candidatos fariam os dois vestibulares e ficariam nas mesmas posições em ambos. O que é impossível. O primeiro resultado mostrou poucos nomes em comum no listão. Ocorreram intermináveis chamadas.

O segundo aumento na média, que eu considero significativo, foi no surgimento das cotas. Além do rompimento UFRGS e UFCSPA , houve uma redução de 30% no número de vagas. Elas caíram de 140 para 98 vagas oferecidas para o acesso universal. A média subiu 14 pontos nesse ano. Nesse momento, as vagas da UFCSPA compensavam essa perda. Permanecíamos com um bom número de vagas para Medicina.

O terceiro e ainda mais significativo aumento na nota ocorreu em 2010. O "nascimento" de um novo ENEM mudou radicalmente a situação. Além de mexer na média final da UFRGS, houve a perda de vagas. Duas das maiores universidades gaúchas, escolas com tradição na formação médica, abandonam o vestibular tradicional. Aderem ao novo ENEM. Perdemos 184 vagas. Porque perdemos? Por que o ENEM é uma prova em âmbito nacional. O Brasil inteiro concorre. Foram disponibilizadas 595 vagas em todo o país. Dessas, 184 são vagas GAÚCHAS! O resultado era "favas contadas". As médias aumentariam por si só. Mas a adesão parcial da UFRGS ao novo ENEM piorou o quadro. As médias subiram significativamente. Chegamos aos "inimagináveis" 736 pontos.

Não sei se o ENEM está certo ou errado. A proposta inicial era criar um novo jeito de avaliar os estudantes. O que se viu na primeira edição foi uma repetição do tradicional vestibular.

Mexer na educação não é realizar uma nova prova. Mexer e mudar a educação é capacitar novos professores, remunerá-los dignamente. Mexer e mudar a educação é mudar a mentalidade dos estudantes. É ensiná-los a pensar. É ensiná-los a mudar o pensamento, a terem o seu próprio pensamento. É mudar a mentalidade de estudantes que não valorizam o estudo.

Atualmente, estudar é "feio". O estudante que "estuda" é menosprezado, desvalorizado pelos colegas. Ele é o "nerd". Legal é passar de ano sem estudar. Legal é criticar o professor que cobra e exige dos seus alunos. Não é o ENEM que vai mudar esse contexto. O que vai mudar a educação desse Brasil estagnado são políticos audaciosos e corajosos. Mas daí já tô pedindo demais. Hora de ajudar os que REALMENTE querem mudar a sua vida. O país, cabe aos governantes, e eu não vislumbro essa possibilidade num curto espaço de tempo.

Vestibulares e suas notas...



Resolvi olhar com atenção as notas dos vestibulares da UFRGS desde o ano de 1997. Toda análise é cansativa, exige cuidado. Em 13 anos, muita coisa mudou. Seja na economia, seja na sociedade. E também na educação. Lançar uma visão sobre notas de um vestibular não é simplesmente "enxergar" números e fazer afirmações cartesianas. Em 13 anos temos uma nova geração de estudantes. A década de 90 e a primeira dos anos 2mil evidenciaram uma crise no sistema educacional brasileiro.

O vestibular da UFRGS tinha 35 questões por prova em 1997. Atualmente, 25. Durava 5 dias em 97. Atualmente, dura 4 dias. A PUC, em 1997, tinha 25 questões por prova e durava 5 dias. Atualmente, tem 10 questões por prova e dura 2 dias.

O resultado dessa redução foi o emparelhamento dos candidatos. Está cada vez mais difícil se diferenciar. Como assim??? Simples. Quando a UFRGS tinha 35 questões, a média era muito próxima da atual prova. Entretanto, a prova de hoje é composta de 25 questões. Existem menos questões, o que diminui a chance de ganhar pontos através do desvio. Relembrando, desvio é uma conta maluca que nos informa um número que mostra quantos pontos ganhamos a mais na média. Esses pontos são decisivos para a aprovação. Quanto mais questões acertamos, mais desvios ganhamos. Quanto menos questões tiver a prova, menos desvios teremos e menos pontos ganharemos. Tá aí o emparelhamento que falei. Com provas compostas de 25 questões, o vestibular aumentou a importância de uma única questão. O estudante tinha que acertar um número muito próximo de questões comparando com o atual modelo. A diferença é que a prova agora é composta de 25 questões. Diante disso, acertar quase 80% tornou-se uma obrigação. Quando penso em obrigação, penso nas suas consequências. Os estudantes estão indo para a prova com a difícil missão de serem perfeitos nessa hora.

O resultado do vestibular de 2010 mostrou um aumento significativo nas médias. A média do último aprovado em Direito diurno na UFRGS está muito próxima da média do último candidato aprovado em Medicina na UFCSPA no ano de 1997. A média de Direito em 2010 foi 679,74 e em Medina na UFCSPA em 1997 foi 694,59.

Não quero ser o Joãozinho-do-passo-certo, mas está evidente que as coisas estão ficando mais disputadas. A cada mudança que ocorre no vestibular, piora para o candidato. A média tem subido não pelo nível dos estudantes. Mas pelas mudanças na regra do jogo.