Mais uma noite companheira. A casa vazia, a tv ligada, toca um dvd...Pouca Vogal...a música: Tent'entender...
Final de ano, época de reavaliações, fazer balanço, hora de contagens...
Falta pouco pra completar 10 anos de estrada. Uma história que começou com 3 estudantes corajosos que acreditaram na história de um cara recém formado. Só por isso, eles já mereciam a glória. Da janela do apartamento, vejo os aviões pousando e decolando. Cada vôo deve ter a sua história. A minha começou em 96, quando passei em Medicina. Não tive um plano bem traçado. Minha rota deve ter sido a alternativa, não estava um céu de brigadeiro. A turbulência da viagem proporcionou uma experiência ,pra mim, muito rica.
A oportunidade de lidar com as causas perdidas passou a despertar meu interesse. Muito mais por eu ser uma causa perdida. Longos 4 anos e meio até passar no vestibular de Medicina. Enfrentar a descrença de tudo e de todos. Foi uma luta solitária. Mas essas são as melhores batalhas. Aquelas em que o único fiel escudeiro é você mesmo. Lutar e se proteger são aptidões de poucos. Aprendi na "marra".
Hoje trabalho com as causas perdidas, para alguns. Pra mim, não! Diariamente, ouço histórias de estudantes ansiosos e castigados pela desesperança dos outros. Em suas viagens, sou um marinheiro de uma nau à deriva. O barco em que navegamos atravessa um mar em fúria. Exercícios, simulados, pressão de todos os lados. A chance de chegar ao destino traçado sãos e salvos é remota. Na maioria da vezes, as marcas são duras e as cicatrizes, um legado do processo.
Tenho a convicção de que é isso que me motiva a seguir viagem. A cada ano, as histórias se renovam. Nunca elas se repetem. Essa sensação do momento único, que não irá se repetir, me apaixona. É como entrar no carro e ligar o rádio...coloque o cd e aperte a tecla "random"...as coisas não tem uma lógica própria. A lógica cartesiana naufraga quando o assunto são pessoas. Indivíduos tem as suas vicissitudes...o seu contexto. Eles tem as suas vontades e limites. A capacidade de superação tem um tempo próprio de amadurecimento. Nesse somatório, cada um tem o seu tempo.
O meu tempo, nesse que tô pensando, os quase 10 anos de estrada, me colocou em contato com milhares de pessoas. Foram mais de 200 palestras. Na contagem, diversos estados, diversas cidades. Mais uma vez, a lógica cartesiana falha. Porque cada palestra teve a sua história. Cada palestra teve um público diferente.
É hora de planejar 2010...mas não muito adiante. Janeiro tem o fechamento de 2009. O tempo é realmente relativo. Passado, presente e futuro se misturam.
