Contato

Mail: danielguzinski@gmail.com
Blog2: http://danieldepoimentos.blogspot.com
Consultório: Rua Gonçalo de Carvalho 209/203, Bairro Independência, POA, RS, Brasil

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Foundie, estórias, recordações...




Ok, eu admito: tenho muitas dúvidas. Não sou um ser dotado da sabedoria universal, do conhecimento dos grandes gênios. Meu mundinho é pequeno, limitado, fechado, fiel as coisas que acredito. Vou tentar exemplificar.

Tenho dúvidas quando o garçom pergunta: “foundie no óleo ou na pedra?”...Bah, o cara quer me matar. Como é que eu vou saber! Meu paladar diria: o foundie no óleo. Os pequenos pedaços de carne boiando naquela panelinha, a ponta dos garfos aparecendo, contendo na sua extremidade o delicioso cubo de carne, as bolhas geradas pela alta temperatura, a fumaça do azeite se espalhando pelo ambiente - sim, saímos cheirando a cozinha do restaurante, não é bem o aroma ideal para um primeiro jantar romântico. Por outro lado, minha artéria coronária diria: Daniel, tu tá completamente louco? Quer te matar? Sim, como médico eu deveria saber que foundie na pedra é mais saudável, que o óleo irá acumular dentro do “lúmen” dos meus vasos e blá, blá, blá. Nem sempre as escolhas são tão simples. O pior é que devo fazer a escolha no meio de uma conversa. Nossa, daí sim o caos se instala. Meu foco atencional não está na escolha da janta. Meu foco atencional está num par de olhos, num perfume que supera o “delicioso” cheiro de óleo que contamina o ambiente. Nessas horas, fazer um escolha, tomar uma decisão, mesmo que simples, pode se tornar uma tarefa gigantesca.

Além dessa dúvida, tenho outras com as palavras. A diferença entre história e estória. Lembro de infernizar meu pai quando comecei a ter “história” no colégio. Pobre Jorge (meu falecido pai! está no céu por me aguentar, não tenho dúvida alguma!): pai, por que existe história com agá e estória com “e”? E ele, pacientemente, dizia: meu filho, entende de um vez por todas, história aconteceu e estória não. Confesso que, em alguns momentos, discordo dessa teoria. Existem algumas estórias que são reais, que ficam no imaginário por tempos. Eu sei, parece um chavão. Existem estórias significativas. Eu lembro de coisas que talvez nem tenham acontecido, porque guardamos a estória de uma forma e lembramos de outra. E, na próxima vez que lembrarmos, distorceremos ela novamente. Mas é essa nova estória que pode tornar um momento inesquecível ou trágico. Se o cheiro real fosse mais significativo que o momento a estória seria fria, sem alma, sem sentimento. Só que a lembrança forte que cria a estória é tomada pela emoção. A partir daí detalhes viram peça chave de um quebra-cabeça. E a cada nova recordação a estória renasce mais forte, mais avassaladora, com detalhes e requintes de um filme em alta definição. São esses detalhes que fazem as lembranças voltarem na nossa memória. 

Essas minhas dúvidas são histórias ou estórias? Não sei bem. Eu preferia que fossem histórias. Mas como elas renascem novas, com cada vez mais detalhes, acho que são estórias. Mas seria bom a estória ser contada novamente.

Ps: ao som de Matchbox 20...disease...