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segunda-feira, 22 de março de 2010

O bíceps, o decote e o bicho papão...


?quanto vale a vida acima de qualquer suspeita?
?quanto vale a vida debaixo dos viadutos?
?quanto vale a vida perto do fim do mês?
?quanto vale a vida longe de quem nos faz viver?



Humberto Gessinger


Existem dias em que eu me pergunto isso. Quanto vale a vida? O trecho que retirei da música homônima me leva a pensar, refletir. Vivemos num mundo onde a futilidade toma conta. A beleza ocupa um espaço cada vez maior. Mas aí eu pergunto, o que é beleza? Atualmente, beleza pra mim é ganhar um sorriso do meu filho. Ah...um sorriso do pequeno João não tem preço. Atrás daquele sorriso está afeto, carinho, amor, confiança, dependência, cumplicidade. Sim, cumplicidade. Existem brincadeiras que são nossas. Pertencem a nós dois. Ninguém entenderá o monstro que devora barriga. Mas, para mim e para o pequeno João, existe sentido. Qualquer outro pode tentar me imitar. Ele vai olhar, olhar e sair. Porque esse é um momento entre uma dupla. Uma relação de confiança.

A vida moderna não é assim. Ela exige horas e horas de academia. Ela exige o maior dos silicones e o maior dos decotes. Calma, não estou fazendo a apologia "morra silicone". Não é nada disso. Acho que existem situações em que é importante para a auto-estima da pessoa. Ela vai se sentir melhor com o seu corpo. Essa é uma situação bem diferente.
Estou falando do silicone por silicone. Do silicone gerando um mega-macro-giga-hiper-super-seio maior. Maior? Não é maior. É algo assustador. Como duas melancias suspensas. Ousa desafiar as rígidas leis da gravidade. Somado a isso, uma blusa ajustada e um decote "provocador". Provocador? Na minha terra isso tem outro nome! 

Após horas de academia, de horas numa clínica ajustando os seios, é hora da caçada! A noite espera os mais bem preparados. Uma caçada de seleção natural. Os mais belos se encontram. É um encontro fantástico. Os assuntos só poderiam ser os mais diversos e profundos possíveis. Um diálogo do tipo:

Garota: oi...que lindo teu bíceps...
Garoto: nossa, esse teu silicone me diz tudo...
Garota: nem te conto, baita trabalho escolher o tamanho que ficasse adequado pra mim...
Garoto: entendo....passo por isso na academia...sempre um peso a mais...
Garota: cara...tu é demais
Garoto: é, eu sei...tu também...
Garota: eu também sei...todos me dizem...

Depois de se conhecerem profundamente, trocam um beijo digno dos protagonistas da novela das oito. Minutos e minutos. Essa relação vai pra frente! Será?

Na minha opinião, não, nunca, jamais! Conhecer alguém é um pouco diferente. Exige paciência, calma, carinho, confiança. Conhecer alguém exige olhar o outro. Como assim olhar? Olho no olho é coisa para seres evoluídos. Olho no olho exige cumplicidade. Olho no olho envolve amor. Olho no olho expõe as nossas fraquezas, as nossas angústias. O olhar revela a alma. Diante disso, é mais fácil, ou menos complexo, mudar a "fachada". 

O que me revolta são os frustrados. Existem pessoas que convivem bem com a superficialidade. E não há mal nenhum nisso. Isso não traz nenhum tipo de sofrimento ou coisas afins. Nada de olho no olho. Nada de escolher um cinema em boa companhia. Nada de jantar romântico. Nada de uma conversa que dure horas e horas. E ,no meio dessa conversa, o nome de um filho aparece, por que não? Ou então, um provável casamento no Taiti numa ilha paradisíaca.

Fugindo do medo do envolvimento, é mais fácil criticar quem pode. Ou melhor, quem consegue se envolver. Quem evoluiu a tal ponto. É muito mais fácil dizer que a balada estava dez! Que tinham milhares de gatinhos e gatinhas a disposição. É mais fácil usar o MSN para mostrar uma fachada que não existe. É mais fácil criar um orkut "fake" e observar a vida alheia. Olhar as fotos de quem optou por viver. Pensando bem, feliz daquele que não está no orkut. Pois só assim não terá sua vida devassada, invadida pelo olhar indiscreto de um voieur cibernético. Que foge do contato ao vivo, que foge do olhar. Mas que olha a vida passar na tela como um video-game da inveja. Uma relação vazia será construída.

Resumindo, vou brincar com o monstro que come barriga...