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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Parecia inofensivo...

Umas das maiores aflições da humanidade é saber o que é certo ou errado. A diferença entre o bem e o mal. O que é certo para um, não é para outro. A partir daí, surgem questões envolvendo ética, moral e valores. Entram assuntos como política, artes, religião, time de futebol e o que você mais puder e quiser imaginar. Em maio de 2009, acompanhamos uma dessas intermináveis discussões. E ela envolvia a educação brasileira. O MEC, percebendo que as coisas não estavam bem na educação do nosso querido país, resolveu mexer nesse negócio. 

Certamente, devem ter participado importantes entendidos em educação  para a elaboração desse novo modelo. O problema era o ensino superior. E, mais do que isso, o sistema de acesso. Era hora de mexer no vestibular.

Na época, quando li as regras do novo ENEM, comentei com todos: por esse novo método haverá uma elitização ainda maior no sistema de seleção ao ensino superior. Com as novas regras criadas, era perceptível que as coisas iriam dificultar ainda mais. E foi o que aconteceu.

O novo ENEM criou um monstro bem feio. Algo como os Backyardigans. Faz um tempo que observo filmes infantis com o meu filho. Existe alguém que não conhece os Backyardigans? Todo mundo conhece! Eu, por exemplo, já assisti todos os episódios. Voltando ao que interessa. Dentre os personagens dos Backyardigans está um pinguim amarelo e azul que fala! Putz, ia me esquecendo, ele também é surfista! Ou seja, um bicho meio estranho. Ninguém nunca viu um pinguim amarelo e azul. Mas que fala, eu já! Isso é uma outra história que vou contar num futuro distante. As crianças gostam, a inocência gera um desconhecimento do perigo. O ENEM gerou isso. Quem não prestou atenção nas novas regras, se deu mal. O bicho criado ia atacar um outro "bixo". Sim, o bicho ENEM ataca o "bixo" vestibulando.

De acordo com a nova regra, o vestibular passava a ser NACIONAL. Você fazia a prova em "Pipoquinha" do Norte (que o pessoal de "Pipoquinha" do Sul não se irrite pelo esquecimento!) e concorreria a uma vaga em qualquer uma das Universidades que haviam aderido ao novo ENEM. Estava criado um sistema de disputa "ultraconcorrido". 

Não estou defendendo a regionalização do ensino. Mas, num país de dimensões continentais, na minha opinião, isso não é viável. O novo ENEM esquece as características de cada região. As questões não cobrarão NUNCA, conforme foi dito no edital, questões  de conteúdo regional. Sul e norte, leste e oeste. Nada disso interessa mais. 

Com milhões de candidatos espalhados por todo o país, era evidente que a disputa seria acirrada. E numa disputa assim, leva vantagem quem está melhor preparado. Tenho certeza, após a realização da prova, que não é somente a questão geográfica que define vantagem. Li diversos comentários sobre a vantagem que São Paulo levou nesse novo sistema de disputa. E ,se São Paulo levou vantagem, é por um único motivo: alunos bem preparados! E como são muitos alunos, pior para todos.

O problema está na forma como se constrói um aluno bem preparado. Um vestibulando de elite se constrói com um bom aporte financeiro. Sim, com dinheiro. Diante disso, percebo dificuldades. Os grandes centros tem as melhores escolas, os melhores professores e , conseqüentemente, terão os melhores alunos. Como encontramos de sobra essa matéria-prima em São Paulo, o resultado mostrou isso. E foi justo! Sei que muitos não concordarão com o que digo, mas o ENEM selecionou os melhores estudantes brasileiros. Colocar o seu nome no listão do SiSU foi uma tarefa Hercúlea! Davi contra Golias! Falando da minha cidade e do meu estado, os listões da UFPEL e da UFCSPA, para Medicina, foram formados por verdadeiros heróis. Estudantes com um nível intelectual acima da média, com um capacidade cognitiva exemplar. Responder 180 questões e uma redação em, aproximadamente, 10 horas é tarefa pra lá de difícil. Exige conhecimento, estudo, capacidade de raciocínio, treinamento e controle emocional. Para se ter tudo isso só com muito investimento. Ou seja, privilégio de poucos no nosso país.

Passaram no novo ENEM os estudantes que tiveram os melhores professores, os melhores colégios. Tudo do bom e do melhor. Só que isso custa caro. Preparar-se para esse desafio exige tudo isso e mais um pouco. O estudante deve dedicar-se integralmente. Ele estuda, estuda e estuda. Entretanto, muitos desses estudantes tem que trabalhar. Penso que aí começam as injustiças. Apenas uma pequena parcela tem condições de se dedicar integralmente e tem condições financeiras de arcar com todos esses custos. Faça você mesmo uma pesquisa e tente descobrir quanto custa a preparação mensal de um vestibulando. Estamos falando de valores médios de 1000 reais. Eu falei média! Quantas famílias brasileiras tem condições de custear o ensino de seus filhos? Pouquíssimas. 

O MEC deveria era investir em escolas, remunerar melhor os professores, estimular a criação de cursos técnicos pelo país. Mas, não. Atacou o vestibular, sem dó nem piedade. Ops, será que atacou mesmo? Não! Ele turbinou o vestibular. O novo vestibular é ainda mais elitista que o antigo. Sai na frente quem tem o melhor ensino. E ele está no sistema privado. Portanto, custa caro. Sei que amanhã vou receber uma carta da comunidade "sou pobre e passei", mas essa carta será a exceção. Como toda regra... 

A pesquisa mostrou que 80% dos alunos não gostou do SiSU. Não foi surpresa. O que me interessa está atrás dessa informação. O que cada voto quis dizer. Percebi  que realmente as pessoas não simpatizaram com esse método. Muitas se sentiram injustiçadas pelo critério. Só que não foi ele o culpado. O sistema criado é justo. Os melhores do país foram aprovados. O injusto é a forma de se tornar um dos melhores. Agora é um outro papo. Esse é mais profundo. O Lula que resolva!




   

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