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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Einstein e Freud se comunicaram...já o MEC...


O tempo é realmente relativo. Meu reveillon foi hoje. 2009, enfim, terminou. Mais precisamente às 23:59. No exato instante em que fechavam as inscrições no SiSU, ou sistema de seleção unificada. Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que foi o ano mais confuso no calendário do ensino médio na história do país. É sabido que a educação precisava passar por uma "reforminha", mas o que vimos e presenciamos foi o holocausto. Talvez o nosso 11 de setembro. Ou, quem sabe, o dia D da educação brasileira.

De uma só vez, MEC, INEP e outros entendidos, resolveram mexer na educação brasileira. Mas mexeram mesmo. Quisera eu que fosse para melhor. Dotado de um conhecimento superior e inquestionável, atacaram o problema da educação. E certos de onde estava o problema, foram lá! Estava ali, parado, quietinho. O vestibular era o vilão! Ele mesmo, leitor! Pense bem, você já não falou mal dele? Todos nós já falamos. Ou conhecemos alguém que falou. E os entendidos, dotados de superpoderes, o atacaram. Criaram um novo jeito de selecionar estudantes por esse Brasil varonil! Estava criado o novo ENEM. A partir de agora, estudantes de todas as classes, credos, cores, locais e tudo o que você puder e quiser imaginar, estavam em igualdades de condições.

Uma atitude messiânica, que visa salvar os fracos e oprimidos. A partir de agora, acabou a injustiça na educação. Todos estão em igualdade. Você pega a sua nota do ENEM e inscreve ela no SiSU. O próximo passo é escolher onde você quer estudar. Imagine você morar numa cidade litorânea, clima ameno, pessoas saradas. A sua chance definitiva de livrar-se dos quilos a mais adquiridos nos anos de vestibular. Fez-se a justiça!

Entre os dias 29 de janeiro e 3 de fevereiro tivemos a honra de ver o resultado dessas profundas mudanças. O estudante, de posse da sua nota, acessava o sistema, pela internet de banda larga, e escolhia o tão sonhado curso. Não foi bem assim.

Nem todos tinham banda larga. Nem todos tinham um bom computador em casa. Nem todos se prepararam adequadamente. Nem o site funcionou direito.

Via twitter, acompanhei o desespero de milhares de estudantes brasileiros. Criou-se até uma lista, ela se chamava #sisufail. No twitter, o símbolo # (ou jogo da velha, essa é o do meu tempo!), significa uma lista. E todos que digitarem esse símbolo, serão lidos pelos outros internautas, via twitter. Complementando, fail vem do inglês, e quer dizer caiu! O sisu caiu! Sim, leitor! O sistema não estava funcionando. Estudantes indignados se manifestavam com raiva, no início. Depois de um tempo, como estamos no Brasil, virou "gandaia". Frases do tipo: "é mais fácil encontrar o golden ticket do willy wonka do que se inscrever no sisu", surgiram aos borbotões! E o sisufail fez sucesso. Foi a lista da "hora" no twitter brazuca. A mais seguida e escrita. E por aí foi.

Usei a expressão favas contadas nos textos anteriores. Muitos me perguntaram o que era isso. Favas contadas é um negócio certo! Portanto, era favas contadas que isso aconteceria. Hoje, com o término das inscrições no sisu, já podemos afirmar algumas coisas, sem medo de errar.

O que antes era difícil, ficou ainda mais. As médias subiram para níveis jamais imaginados. Escores altíssimos em todos os cursos. Quem tinha uma boa nota, mas não era aprovado no seu curso, se inscrevia para outro. E assim se sucedeu durante 6 intermináveis dias. Você dormia aprovado, mas acordava reprovado. E ,no dia seguinte, lá ia o nosso Severino, personagem imortalizado por João Cabral de Melo Neto. Se você não consegue num dia, muda no outro. Não importava mais o curso. Importava, a partir de agora, é colocar o nome no sisu!

Toda essa nova engrenagem foi criada para ajudar o estudante. Inclusive, disse o ministro da educação, em meados de 2009, o SiSU diminuiria a ansiedade dos estudantes. Como psiquiatra, não vi isso. Muito pelo contrário. Poucas vezes, e já tenho alguma experiência em vestibular, vi cenas como as que presenciei nesses dias. Pais indignados. Filhos sem saber o que iriam fazer. Recebi muitas ligações de pais que me diziam mais ou menos assim: "mas como? Ontem ele tava aprovado e hoje não?". Sim. Esse é o método criado para auxiliar os estudantes.

Ainda não tenho uma opinião formada sobre o novo ENEM. Não sei se ele é melhor ou pior que o vestibular. Não sei se ele é bom ou mau. Para os estudantes, eu sei a resposta.

Não quero ser o profeta do acontecido. Mas tenho certeza que algum estudante perdeu a sua sonhada e merecida vaga por que não conseguir acessar o sistema. E nada será feito para reparar esse erro.

Acredito que o melhor seria repensar a educação pelo início. Pensar nas crianças. Repensar a educação infantil. Desse jeito, formaríamos cidadãos de verdade. Talvez ,nesse momento, poderíamos usar o SiSU. Um pouco de conversa faria bem a todos. Mesmo Einstein e Freud, seres nem tão dotados de inteligência assim, desceram do pedestal e trocaram confidências, trocaram humildes cartas. Ou seja, se importaram com a opinião do outro. Pelo visto, estamos longe ainda...


Um comentário:

  1. Concordo com o que disse, Daniel. É angustiante esperar pelo resultado deste SiSU. É angustiante saber que MUITAS das pessoas que se inscrevem não tem reais condições de se mudar para a cidade onde está a faculdade escolhida, e só se inscrevem para poder dizer que passaram. É angustiante saber que quem fez isto na 1ª fase pode repetir na 2ª, e na 3ª. E onde ficam as vagas remanescentes?

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